Má-nutrição e dificuldades alimentares

No artigo de Janeiro de 2009, dedicado à problemática da má-nutrição e transcrito em baixo, é mencionada a doença de Huntington. Em anexo, há um outro artigo, (“Subnutrição, sinais de alerta”) que todos deveriam ler! Refere, numa parte: Má-absorção – Falta de Vitamina B12 pode ter efeitos devastadores no sistema nervoso, que podem provocar irregularidades no caminhar, fraqueza muscular, discurso arrastado e psicose – sinais e sintomas similares aos de doenças como Huntington, Parkinson ou Alzheimer.

Em Setembro último, enviei-vos um artigo intitulado “Vitamina B12 relacionada com Atrofia Cerebral” (Vitamin B12 Linked to Brain Shrinkage) e sugeri que os níveis de Vitamina B12 devem ser periodicamente monitorizados em pacientes com DH, principalmente nos estágios intermédios e avançados, em que a pessoa poderá já não conseguir consumir a quantidade de alimentos necessária para a manutenção de níveis de B12. O artigo original pode ser lido em: http://www.healthnews.com/medical-updates/vitamin-b12-linked-brain-shrinkage-1737.html.

Nesse mesmo e-mail, referenciei um artigo do eMedicine sobre alguns dos sintomas que a deficiência de Vitamina B12 pode causar em pacientes com desordens do foro neurológico. Muitos são semelhantes aos sintomas da DH: perdas localizadas de sensibilidade e parestesias estavam presentes em 33% dos casos; dificuldades no caminhar em 12%; sintomas do foro psiquiatrico ou cognitivo em 3%; estados febris baixos, solucionáveis com tratamento médico, em 33%, e sintomas do foro alimentar, incluido anorexia e perda de peso, ocorriam em 50% dos pacientes.      (referência: “Vitamin B12 Associated Neurological Diseases – http://www.emedicine.com/NEURO/topic439.htm).

A má-nutrição em pacientes com DH deve ser levada em atenção! Normalmente, esta vai-se desenvolvendo por etapas durante longos períodos de tempo. A má-nutrição primária ocorre em indivíduos que estão dependentes de outros para a sua alimentação, e estes podem ainda representar um  risco para a má-nutrição secundária, que ocorre em indivíduos cuja ingestão de alimentos está diminuída por falta de apetite ou dificuldades na digestão, absorção ou utilização dos nutrientes no corpo. A subnutrição é uma consequência da ingestão de quantidades insuficientes de nutrientes, ou da sua excreção de forma demasiado rápida para permitir a reposição dos seus níveis no organismo. A perda de nutrientes pode ser acelerada por factores como diarreia ou sudação excesiva. Crianças com má-nutrição crónica apresentam mudanças comportamentais que incluem irritabilidade, apatia e baixos níveis de responsividade social, ansiedade e défice de atenção. Sinais e sintomas podem não aparecer até às fases mais avançadas da má-nutrição. Num dos meus websites, Swallowing difficulties in HD (dificuldades na deglutição na DH), http://huntingtondisease.tripod.com/swallowing/id10.html , existe um link para o “Dysphagia Diet” que é, para mim, um dos mais completos artigos sobre deglutição, líquidos, calorias, considerações especiais e guias dietéticos baseados nas quantidades de comida.

Má-nutrição e dificulades alimentares
http://www.nursingtimes.net/ntclinical/2009/01/nutrition_and_eating_difficulties.html
Publicado em 5 de Janeiro de 2009 16:56

Dificuldades alimentares, que afectam a capacidade de morder, mastigar ou engolir comida, podem levar à desidratação e à má-nutrição. Helen Crawley aborda a sintomatologia, distúrbios secundários e tratamentos.
Helen Crawley, RD, RPHNutr, é professora na School of Life Sciences, University of Kingston, Kingston, Surrey

Conseguir obter a quantidade adequada de calorias, nutrientes e fluidos pode ser um desafio para os pacientes com problemas na deglutição, mas prevenir a má-nutrição e a desidratação é essencial para reduzir a morbibilidade e a mortalidade dentro dessa população.
O que são dificuldades alimentares?
São doenças que afectam a capacidade de morder, mastigar ou engolir comida.

Disfagia
Este distúrbio na deglutição pode ser causado pela ausência ou atraso do reflexo de engolir, e por dificuldades nos movimentos dos lábios, maxilares e lingua que prejudicam tanto a fase oral e faríngica da deglutição. É comum após AVCs, onde 30% dos pacientes desenvolvem disfagia, e na Demência, principalmente em estados mais avançados.

Dificuldades na deglutição estão também associadas com:

carcinomas da boca ou esófago
intervenções cirúrgicas no maxilar
doenças neurológicas, tais como Parkinson, Huntington, Paralisia Cerebral e Esclerose Múltipla

    Dificuldades em mastigar e dor bucal
    Normalmente são causadas por problemas dentários, úlceras bucais ou infecções como a Candidíase. Dores na boca e língua podem estar também relacionadas com deficiência de nutrientes, particularmente de Vitamina B12, Ferro e Vitamina C.

    Distúrbios secundários derivados da disfagia e dificuldades alimentares
    A aspiração de comida para as vias respiratórias pode causar infecções pulmonares ou pneumonia.
    Aumento do tempo de internamento, morbilidade e mortalidade.
    Má-nutrição e desidratação são frequentes sempre que a capacidade de consumo de comida ou liquídos são afectados.

    Porque é que as dificuldades alimentares podem levar a situações de má-nutrição e desidratação?
    A desidratação ocorre porque a ingestão de fluidos se torna mais difícil com a disfagia.
    Tossir e engasgar-se são problemas frequentes se as bebidas não forem suficientemente espessas.

    A mudança de hábitos alimentares pode provocar uma diminuição na quantidade de alimentos e nutrientes ingeridos. Má dentição, ou dores bucais levam muitas vezes a que se reduza a ingestão de frutos, vegetais, carnes ou cereais ricos em fibras, e, por sua vez, isto pode fazer diminuir excessivamente as quantidades de Vitaminas A e C, Ferro e Zinco, nutrientes particularmente importantes para o bom funcionamento do sistema imunitário.

    Alterações da textura dos alimentos. Os pacientes com dificulades alimentares podem necessitar de alimentos e fluidos cuja textura é alterada, o que pode vir a provocar uma redução da densidade energética da comida, por exemple, quando esta é dissolvida. Quando a textura dos alimentos tem de ser alterada, os pacientes poderão estar a receber o correspondente a apenas 45% das suas necessidades energéticas, e necessitam de fazer refeições mais frequentes, ou de consumir alimentos mais densos para obter energia suficiente.

    a perda de autonomia alimentar pode também fazer com que a alimentação não forneça a quantidade adequada de energia. Isto pode acontecer por uma série de razões:

    o acto de comer torna-se mais lento;
    o uso de talheres pode ser limitado;
    o paciente pode sentir-se pouco à vontade enquanto come;
    a ansiedade ou o medo de se engasgar podem fazer com que o paciente ou o auxiliar se sintam desconfortáveis e nervosos durante as refeições;
    a diminuição do prazer de comer, causado pelo sabor, temperatura, variedade e aparência da comida, pode afectar o apetite;

    Estimular pacientes com dificulades alimentares a fazer uma dieta adequada

    Consulte um especialista em terapia da fala que possa avaliar e monitorizar a evolução de pacientes com dificuldades alimentares. Eles poderão ainda aconselhar maneiras de evitar a aspiração de comida e também sugerir as texturas mais adequadas para os alimentos e fluidos. O anexo 1 contém alguma informação sobre dietas de textura modificada.

    O cuidados dentários são essenciais, incluindo o tratamento da Candidíase e úlceras bucais. As dores bucais devem ser investigadas, e, no caso da existência de placas dentárias, estas devem estar bem ajustadas.

    As preferências pessoais por certos alimentos devem ser respeitadas. É essencial saber o máximo possível sobre o que o paciente gosta e não gosta de comer.

    Um facto muito importante para conseguir que o paciente ingira uma quantidade suficiente de alimentos é dar-lhe tempo suficiente para mastigar e engolir. Comer pode ser uma tarefa extenuante quando existem problemas com a deglutição, e é essencial que exista alguma flexibilidade no que diz respeito ao tempo destinado às refeições.

    A quantidade de alimento por refeição deve ser também ajustado à situação. São preferíveis refeições mais frequentes, com menos comida por refeição.

    A temperatura dos alimentos pode também influenciar a deglutição. Quando sensibilidade bucal está diminuída, alimentos frios ou gelados, assim como refeições quentes, podem mais facilmente estimular o reflexo da deglutição do que refeições mornas ou tépidas.

    A posição mais adequada para os pacientes é sentarem-se, com as costas direitas, os pés bem assentes no chão, o corpo bem apoiado e a cabeça ligeiramente inclinada para a frente.

    Assegure-se de que, sempre que a quantidade de alimentos é reduzida, a sua densidade energética é suficiente para providenciar às necessidades do paciente. Encoraje-o a incluir alimentos ricos em nutrientes essenciais à dieta, tais como carne, peixe, frutas, legumes, lacticínios e cereais. Se forem necessárias refeições com maior densidade energética, adicionar queijo, manteiga ou natas irá aumentar a quantidade de calorias.

    Não abuse dos suplementos alimentares. Bebidas de suplemento nutricional, pudins ou sopas podem ser úteis no curto-prazo, quando existe uma preocupação com a quantidade de calorias ingeridas pelo paciente, mas reforçar alimentos reais com nutrientes adicionais é mais aceitável, e estimula o paciente a regressar aos seus normais hábitos alimentares e a melhorar a nutrição no longo-prazo.

    Ajude a que os pacientes mantenham a sua autonomia alimentar sempre que possível. Sugira comidas que possam ser ingeridas com as mãos sempre que o uso de talheres se torne difícil, e procure utensílios modificados que facilitem a sua utilização às refeições Se os pacientes necessitarem de auxílio às refeições, considere esse acto como ”ajudar alguém a comer”, em vez de “alimentar alguém”. A atenção e a dedicação de quem dá apoio é essencial.

    Durante a refeição, lembre o paciente de que tem que comer. Isto pode ser particularmente útil em casos de demência, quando as pessoas devem ser gentilmente lembradas de mastigar e engolir a comida.

    Anexo 1: Alterando a textura das comidas e bebidas

    A alteração textural dos alimentos está descrita segundo cinco categorias para os fluidos e seis categorias para os alimentos sólidos (BDA/RCSLT, 2002). O objectivo de modificar a textura dos alimentos é facilitar o seu fluxo estável entre a lingua e o palato, ajudando a obter maior controlo sobre a mastigação e deglutição. Terapeutas da fala e Nutricionistas poderão aconselhá-lo no que toca a encontrar a textura ideal para os alimentos.

    Fluidos: muitas vezes, necessitam de ser engrossados, mas é importante saber preparar correctamente os alimentos, uma vez que diferentes marcas de espessantes irão ter efeitos diferentes. As investigações mais recentes indicam que as bolhinhas das bebidas gaseificadas (carbonatadas) podem auxiliar a estimular o reflexo da deglutição e ainda que o uso de fluidos congelados pode ser uma alternativa viável para a ingestão de liquídos, nalguns casos.

    Alimentos tipo puré deverão ser confecconados de forma a serem tão atractivos quanto possível. Os diferentes alimentos devem ser esmagados separadamente, de preferência sem adicionar água, de forma a que cada ingrediente se mantenha reconhecível, e com o sabor e qualidade nutricional inalterados. Molhos podem ser utilizados para melhorar o aspecto da comida alterada, e o uso de moldes pode ajudar a dar aos purés um aspecto mais agradável, aumentando a sua aceitação por parte dos pacientes.

    Referências e bibliografia:

    British Dietetic Association, Royal College od Speech and Language Therapists (2002) National Descriptors for Texture Modification in Adults – http://www.slodrinks.com/images/National%20descriptors.pdf

    Crawley, H. (2002) – Food, Drink and Dementia: How to help People with dementia Eat and Drink Well. Stirling: University Stirling dementia Services Development Centre

    Dysphagia resource centre – http://www.dysphagia.com/